Vila avieira do Escaroupim

Os “nómadas do rio” escolheram Escaroupim para viver e trabalhar. Famílias inteiras que durante décadas mostravam a sua resiliência. Já conheces a história de Escaroupim?

A região ribeirinha do Escaroupim é marcada pela influência do Rio Tejo, que corre a cerca de 100 metros da povoação, e também pela ribeira de Muge que vai desaguar nas proximidades deste local.

No neolítico existiram comunidades de agricultoras que tiraram proveito da riqueza dos solos, que eram constantemente inundados no inverno, o que contribuía para a sua fertilidade. No período romano Escaroupim era um local onde se encontravam duas vias romanas muito importantes: uma que seguia pela margem direita em direção a Santarém e uma outra que tinha como direção o Sul, na margem esquerda.

Em meados do século XIX, surge referência a pescadores da Praia da Vieira de Leiria, que ficaram conhecidos como “avieiros”. Não existe uma data para esta migração e a única certeza que temos é, a certa altura, os pescadores de Vieira de Leiria, começaram a imigrar para o Tejo e que durante anos muitas famílias viveram uma vida repartida entre o rio e o mar. No museu “Escaroupim e o Rio” consegues ver um exemplo de um barco onde as mulheres e os filhos dormiam enquanto os pais pescavam.

Os avieiros ficavam nos meses de inverno a percorrer o Tejo e a suportar uma vida que era dura e difícil. Já no século XX, em meados da década de 40/50, surgem registos das primeiras fixações dos avieiros nas margens do Tejo. Este processo migratório cessa e os pescadores vão ficando deixando de visitar o mar da sua praia.

Começaram a fixar-se em Escaroupim por questões económicas: o aumento da família, os custos das deslocações e os rendimentos baixos da pesca. Este processo de fixação dos pescadores de Vieira de Leiria nas margens do Tejo e seus afluentes é lento, à semelhança das outras aldeias avieiras, surge de um lento processo de fixação de pescadores de Vieira de Leiria.

A cultura aveira

“Incerto o pão na sua praia, só certa a morte no mar que os leva, eles partem. Da Vieira de Leiria vêm ao Ribatejo. Aqui labutam, alguns voltam ainda, ávidos de saúde do seu mar. Muitos ficam.” Alves Redol

O Tejo desde sempre atraiu pescadores e gente que vinha do mar à procura do pão que a terra, que os viu nascer, recusou. Várias famílias vinham em grande número da Praia da Viera (Leiria) pescar para o Tejo no inverno e com o início do verão regressavam ao mar. Esta sucessiva migração conferiu-lhes o título de “Ciganos do Tejo” e “Nómadas do Rio”.

Nos meses de inverno tinham como único abrigo uma bateira, uma embarcação que ao mesmo tempo era o seu lar (Podes ver um exemplo no museu Escaroupim e o Rio). Com o passar dos tempos, o processo migratório termina e escolhem fixar-se nas margens do rio Tejo. Nesta altura começam a erguer pequenas barracas em caniço e depois em madeira. A aldeia de Escaroupim consolida-se urbanisticamente, tomando uma configuração irregular, à semelhança da vida dos avieiros.

Hoje em dia apesar do rio Tejo estar diferente, a aldeia modificada, o avieiro resiste e continua a lançar as redes à água num processo de aprendizagem que lhe foi legado pelos seus antepassados, perpetuando desta forma a identidade/memória dos avieiros. Não vi nenhum pescador no rio, mas vi este simpático senhor a fazer a limpeza da sua casota enquanto preparava o almoço e se tivesse tido oportunidade gostava muito de conversar com ele.

A cultura avieira é fascinante. Que pergunta farias a este (ou outro) pescador avieiro?

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